18 maio 2012

TGV, Linha do Tua e bitolas






Na linha do Tua nunca andei! De comboios percebo pouco. Mas de TGV já tive a oportunidade de andar várias vezes.

É verdade, em toda a minha vida pouco andei naquilo que tradicionalmente chamam combóios. A linha do Tua não conheço, mas conheci os velhinhos comboios da linha do Sabor que nos idos anos sessenta me depositavam na estação de Caminho de Ferro distanciada de 5 kms de Mogadouro. As carruagens eram vetustas. A viagem a partir do Porto era uma aventura que durava um dia. Os carris seguiam as  encostas. Comia-se aquele fumo negro que saía da locomotiva. Fechavam-se as janelas na hora da merenda. Mas o puto que eu era revivia os filmes do Far West americano visto nos filmes do "Carlos Alberto".

Tinha para aí os meus 18, quando encontrei um homem que conhecia coisas de comboios e de caminhos de ferro, vinha de África e dizia que os comboios eram rentáveis por causa das mercadorias, não por causa dos passageiros, lá onde ele vivia e trabalhava. E sabia que era necessário fazer a manutenção do material e sabia que era preciso fazer a actualização das vias. De comboios percebo pouco mas visitei na altura Campolide e o Barreiro com ele. Esse homem que vinha de Moçambique e que conhecia os comboios era o meu pai.

A linha do Norte conheci para ir até Espinho ou até à Aguda durante as férias, também naquele ano que passei na tropa para chegar a Lisboa ou ao Entroncamento. Mas de comboios percebo pouco. Outrora ainda existiam as três classes. Mas não eram o Povo, o Clero e a Nobreza! Já tinhamos sido República e éramos assim uma coisa mal amanhada chamada Estado Novo que cheirava a bafio. Ia eu dizendo que havia três classes. A velocidade era a mesma, só havia a diferença nos assentos, variavam do pau até ao tecido com a napa (quente no Verão) no meio. Depois de uma viagem até Paris, soluçando em vários comboios espanhóis, também conheci as "couchettes" do Sud-Expresso com e sem odores mais ou menos fortes, com gréves em Vilar Formoso e viagens memoráveis. Horas e horas que nunca mais passavam.

De bitolas para isto e para aquilo conheço e sei que servem para facilitar o trabalho repetitivo. Até um dia inventei uma bitola para conseguir facilitar o posicionamento de fotografias nos acrílicos. Quando o disse ao Sérgio, ele olho para mim e perguntou o que era uma bitola. Mas estamos nas bitolas dos comboios! Creio que a bitola Europeia já chega a Sevilha desde 1992. AVE ou TGV a bitola europeia já há vinte anos que está pertinho de nós, e nós mais pertinho da Europa. 

Esperamos sempre tempo demais. Esperamos que descarrilem comboios e que os carros não se atravessem nas passagens de nível. Esperamos que inundem a linha do Tua para chorar o que nunca foi rentável. Queremos a linha do Sabor para o ferro de Moncorvo quando temos o transporte fluvial. Passamos o tempo a olhar para trás,  com os olhos postos na América e a esquecer o nosso interior e a Europa.

Bitolas ainda: o Caso mais flagrante que conheço é o da bitola do porto de Ponta Delgada. Aquela linha de caminho de ferro que quando foi construída já estava condenada a não servir para mais coisa nenhuma, que nunca teria evolução possível. Que bom investimento!




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